Conheci Irmão Victor por acidente. Todos os grandes artistas que conheci, sempre tiveram algo de especial, que me prendem até os dias de hoj...
Conheci Irmão Victor por acidente. Todos os grandes artistas que conheci, sempre tiveram algo de especial, que me prendem até os dias de hoje, ouvindo-os incessantemente.
Uma banda de um homem só. Marco Benvegnù, desde 2014, segue seu projeto pessoal com maestria; em entrevista, alegou ter intimidade com ele, a ponto de não ter planos em colocar mais alguém nessa banda. Eu poderia dizer que "nesse mundo dissonante racional psicodélico, a âncora que me livrou da insípida realidade conjunto-desconjuntural e blah blah blah", o que é comum em muitas resenhas de músicos por aí, mas sinceramente, nunca entendi a necessidade de empregar esses adjetivos sem sentido. Antes deste texto, escrevi um outro, porém, seria de muita desfaçatez com o músico postá-lo, que continha informações promissoras demais. Então, vamos logo a resenha.
Resenha: Irmão Victor
Irmão Victor - Insônia & Rinite Alérgica
Na minha fase de desencontro comigo mesmo, mais ou menos no começo do ano, por acidente, conheci Irmão Victor. Vendo as recomendações do YouTube, acabei tropeçando nele. Ouvi seus dois álbuns, e imediatamente recomendei-os para amigos, e a partir daí, me transformei num fiel ouvinte. Com o tempo, além dos instrumentos suaves e tocantes, e a voz com as mesmas qualidades, a letra me tocava como ninguém. Versos como "o gorro do Papai Noel não entra na cabeça/ de quem já aprendeu a fórmula de Báskhara/ e já saiu a noite/ e já deitou na cama com alguém/ crescer é uma merda/ tudo se paga/ vamos dar uma volta" foram arrebatadores na fase em que me encontrava.
Lançara dois álbuns. O primeiro, em 2015, homônimo, traz obras primas como "Assobiando Chopin", onde ele assobia o famoso "Nocturne Op.55 n° 1 em fá menor". Nessas e noutras, é o que torna-o o gênio do mundo alternativo, que se bamboleia entre a corda da genialidade e do nonsense. "Hemogramas" é uma faixa que fez-me sorrir muito, e comer o meu tempo bolando interpretações para essa música. "Uma fada gorda me contou/que a vida seria mais doce/se eu não saísse de casa/e não lavasse mais a louça/e não abrisse mais a porta pra ninguém". E, por não sei qual motivo, a minha preferida "Mostarda com Água Morna". "Todo mundo vai morrer um dia, menos Johnny Babosa". Cantar isso no ônibus, com os olhos rútilos e a boca trêmula é o melhor passatempo possível, inclusive com a sua pegada lo-fi. Nesse álbum, além do (para mim desconhecido) Johnny Babosa, ele canta o Diógenes Basegio (a rainha da dança); um político natural passo-fundense. Sem contar com todo o instrumental dessas músicas, que exalam aquele odor de pôr do sol, e a poeira de meio século. Além de nos ascender, ele nos traz ao passado, com sua música futurista (rsrs desculpem, eu não resisti a uma dessas).
Irmão Victor - Assobiando Chopin
Irmão Victor - Mostarda Com Água Morna
Seu segundo álbum, mais recente, de 2016, "Passos Simples Para Transformar Gelatina em um Monstro", já me bastou o título. Recheado de referências de sua cidade, Passo Fundo, traço característico de várias de suas melodias, ele não deixa a desejar. "Eu Morava Perto do Quartel", "Onde é que foi Parar o Pedro Alcides", e "Estátuas ao Redor de Vítor Mateus Teixeira", são somente algumas amostras das personagens desse álbum. Só nessas músicas, ele desenterra figuras como o historiador de sua cidadezinha, Pedro Alcides Trindade de Melo, ou o Vítor Mateus Teixeira, mais conhecido como Teixeirinha, compositor conhecido da mesma; e o próximo, não menos importante, Mingus Loratadino, seu gato.
Irmão Victor - Diogenes Basegio (A Rainha da Dança)
Irmão Victor - Mingus Loratadino No.1
Pois bem. A carreira de Irmão Victor não tem muito conhecimento no cenário mundial, o que não diminui sua performance gravada no telhado. Uma dúvida que eu sempre tive, foi da origem do nome da banda. De acordo com uma pequena entrevista no "Barbas de Alladin", ele — sem saber explicar o motivo —, pegou o nome Victor de um irmão da organização "Instituto Irmão Marista das Escolas", onde provavelmente ele frequentou. Por todos esses exemplos, podemos observar que Irmão Victor faz música boa com sua própria casa, com sua própria nação.
Irmão Victor - Passeando com a SAMU
Hoje em dia, há notícias de um novo álbum, para o fim do ano, mas, malgrado, ele continua lançando músicas novas, com títulos e imagens que afagam nosso cérebro. Nonsense para alguns, e com um profundo significado para outros, como eu.